quinta-feira, 24 de maio de 2018

O Brasil em transe

Nos últimos dias a situação política e econômica do país foi sacudida novamente por uma série de acontecimentos complexos e que mostram a falta de rumo do Estado brasileiro e de suas forças políticas.

O aumento dos derivados do petróleo nos últimos meses, acentuado ao longo das duas últimas semanas, vem impactando fortemente na economia brasileira, atingindo toda a cadeia produtiva e o setor de serviços. Esse descontrole mostra que um dos pilares do desenvolvimento entre os anos de 2003 e 2013 - a cadeia de petróleo e gás - vem sofrendo com uma política de desmonte que impacta diretamente em nossos vidas.

Um dos alvos principais do golpe, a Petrobrás, sob a administração privatizante de Pedro Parente, sofre com um processo de desinvestimento, cujo principal objetivo é a venda de seus ativos e, por fim, a privatização da companhia. Um do passos para essa realização é alinhar os preços de combustíveis no país à variação internacional dos preços do petróleo, o que beneficiaria os potenciais compradores e atuais acionistas. No entanto, esse esforço, até o momento feito sem impedimentos ou debates, por parte do grupo que tomou o poder, terá um preço altíssimo para a economia brasileira e seu desenvolvimento no futuro.

A população assiste atônita o que ocorre e tem dificuldade de compreender o processo. A grande mídia brasileira, seguindo seu papel de principal fiadora do Golpe de 2016, reforça a narrativa dos impostos altos sem sequer tocar na questão do desmonte da empresa. As perguntas que a grande mídia se recusa a fazer são as seguintes: a quem interessa a privatização da empresa? Qual o impacto do desmonte da Petrobras a longo prazo? Por que abrir mão do controle do petróleo como recurso estratégico para se construir o futuro do país?

Do lado dos caminhoneiros, através de seus sindicatos, se reforça o discurso setorial, sem sequer esconder a participação patronal, num movimento que lembra, guardadas as devidas proporções, a greve de caminhoneiros no Chile, que foi um dos fatores que alimentou o processo que levou  ao golpe de 1973, culminando no assassinato do presidente Salvador Allende e mergulhando o Chile na mais feroz ditadura da América Latina.

Com o país em transe - preso no processo que nos levou a uma situação em que as instituições desmoronam diante de nossos olhos (em que o poder executivo está paralisado e fragmentado, o poder legislativo se engalfinha em debates fisiológicos e o judiciário segue numa onda ativista, sem sinais de que virá a garantir a legalidade constitucional) -, é fundamental discutir como o Golpe de 2016 nos trouxe à presente situação e como a democracia pode ser resgatada no país, que agoniza a vistos olhos.

Marco Sávio
Coordenador do curso "O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil".

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